Definitivamente não é fácil ser mulher no Brasil nos dias de hoje. Além de ser diariamente submetida ao descaso por parte de nossas autoridades, que nada se empenham em garantir seus direitos básicos, a mulher ainda enfrenta, há anos, um complô social que a submete a um rigoroso padrão de beleza estética. Sem seu consentimento ou aprovação, a “cultura do bumbum”, entre outras, se institucionalizou por aqui e, por incrível que pareça, consciente e inconscientemente, tem sido defendida com unhas e dentes por milhões de pessoas no Brasil, tanto por homens e quanto pelas próprias mulheres.
De forma alguma eu quero desmerecer a medicina estética. Muito ao contrário. Quando desempenhada por um profissional qualificado e de forma consciente, ela é extremamente importante para melhorar a qualidade de vida de muita gente.
Mas aqui, a reflexão é outra. Se nos aprofundarmos mais sobre o assunto, vendo-o de forma mais responsável e amorosa, vamos perceber que o que de fato tem levado mulheres a se submeterem a procedimentos estéticos arriscados, é muito mais uma questão cultural do que realmente uma decisão consciente. Prova disso é o impulso que as movem na escolha do profissional de estética, quase sempre baseado em informações rasas, como no preço (que deve caber imediatamente em seu bolso) e na popularidade do suposto profissional (que deve ser famoso).
A verdade sobre o Dr. Bumbum (e que fique bem claro, que essa é a minha verdade e que não tem nenhuma pretensão de ser absoluta) é que ele é apenas um reflexo. Um resultado óbvio de uma quase histeria coletiva feminina, que tem levado milhares de mulheres a desesperadamente tentarem se encaixar em um padrão de beleza duramente imposto pela sociedade.
O que acontece é que ao aprovarmos e cultuarmos, como sociedade, um padrão estético de beleza específico, estamos sistematicamente impondo às nossas mulheres um sofrimento sem medida. Todos os dias elas são desafiadas por jornais, revistas, outdoors, programas de televisão e internet entre outros, que insistem em padronizar a figura feminina como um ser necessariamente magro, de pele perfeita e bumbum avantajado. Uma figura, que diga-se de passagem, não representa em nada a maioria das brasileiras. Nossas mulheres estão sendo massacradas pela mídia, pela publicidade e até mesmo por parte do jornalismo. Recentemente li uma manchete, em um site muito conhecido que dizia: “Autoestima! (fulana) posta foto com bumbum empinado e surpreende”. Não há exemplo mais tácito do que esse, que claramente distorce valores e demonstra a gravidade do problema.
Precisamos urgentemente promover e aprofundar um debate em nossa sociedade sobre esse assunto. Nossas mulheres precisam ser despertadas para o real significado da palavra autoestima, que deve ter mais a ver com a forma como ela se vê, do que como ela é vista. Esse é um grande desafio que precisamos enfrentar. O incrível universo feminino, como um todo que é, precisa ser respeitado, valorizado e amado por toda a sociedade que, infelizmente, ainda tem muito para avançar nesse assunto.
O trabalho feminino move o Brasil hoje. Basta olhar com mais atenção, por exemplo, a quantidade de mulheres em um transporte público lotado ao final do expediente. Ai sim está um retrato fiel da nossa mulher, cujo conteúdo produtivo está em todas as áreas da sociedade e vai muito além de seu bumbum. Em cada olhar feminino há um clamor por mais respeito, reconhecimento e políticas públicas em seu favor, o que de fato, poderá contribuir para a elevação da autoestima feminina.
A mulher só será protagonista de seu destino quando buscar conhecimento e se libertar da necessidade da aceitação de terceiros.
Enquanto isso não acontece, nós homens podemos fazer a diferença com uma simples atitude: devemos exercitar constantemente o elogio às nossas mulheres e companheiras, para que elas se sintam desejadas e amadas muito além e independentemente da quantidade de silicone ou, de qualquer Dr. Bumbum.
Escrito e publicado em 07/08/2018